A arte da política econômica

Arte de governar é saber buscar consensos e fazer escolhas, visando ao bem-estar coletivo. Conciliar interesses nem sempre é possível.

Arte de governar é saber buscar consensos e fazer escolhas, visando ao bem-estar coletivo. Conciliar interesses nem sempre é possível. Para caminhar, é preciso convencer opiniões e contrariar interesses; outras vezes, é preciso ceder. A arte do convencimento não é fácil, mas exercê-la é também preciso. Em democracias, não se governa apenas com régua e compasso, tampouco com desejos, arroubos e imposições. Governa-se com objetivos e rumo. Governa-se com prudência e ousadia, com paciência e astúcia. Os caminhos a percorrer são tortuosos, não são precisos.

Depois de muitos fracassos, em período de ampla instabilidade política, logo após o impeachment de Collor, hiperinflação e desorganização da economia, o Plano Real, que completará três décadas no próximo ano, foi um caso de sucesso. Itamar Franco promoveu a reconciliação política e garantiu o ousado e inovador plano para a estabilidade monetária, comandado pelo seu quarto ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, que fixou as bases para a expansão dos 20 anos seguintes. Foi a última reforma econômica que alterou profundamente a economia brasileira e deu a FHC dois mandatos consecutivos na presidência da República.

Registrados em podcasts pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças, depoimentos contando as experiências de vários especialistas, responsáveis pala concepção, elaboração e execução da política econômica no período pós-redemocratização, foram reunidos no livro “A Arte da Política Econômica”, organizado por José Augusto Fernandes e recentemente lançado (História Real, 2023). É uma obra importante para quem quiser entender os desafios da política econômica em um país com tantas carências e com histórico de populismo fiscal.

O livro, dividido em cinco partes, relata as experiências anteriores ao Plano Real, foca na governança, gestão e crises ao longo de sua implementação, aprofunda visões sobre as reformas macroeconômicas, trata da construção de regimes, de instituições e de experiências estaduais de ajustes de modernização e, finalmente, apresenta as reformas inconclusas.

No Posfácio, Pedro Malan revela que de todas as inúmeras definições de política a que mais lhe tocou é “a que se refere à arte de tentar tornar possível amanhã aquilo que hoje parece difícil ou impossível”. Vale a pena, no entanto, ponderar a revelação do ministro da Fazenda do Real com a citação feita por Edmar Bacha no Prefácio, extraída da antevisão do saudoso Eduardo Guardia: “Temos que ter uma compreensão dos desafios, de falar e de exigir que o país consiga andar na direção correta, porque estamos acumulando uma quantidade muito grande de problemas que vão tornando as soluções mais custosas e difíceis”.

Que os formuladores atuais de política econômica entendam que adiar soluções poderá tornar impossível o que hoje já é difícil.

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