O Brasil vive um momento decisivo em que a construção de uma base robusta de infraestrutura tecnológica assume papel central. No cenário atual, deixar de investir nessa estrutura significa abrir mão da capacidade de conduzir políticas públicas com eficiência, de proteger dados de cidadãos e de garantir que o país seja protagonista em um mundo cada vez mais digitalizado. A existência de centros de dados bem articulados, rede de telecomunicações de ponta e governança própria sobre os sistemas mais críticos torna-se condição indispensável para que o Brasil possa moldar seu futuro de forma soberana.
Quando se fala em controle, operação e desenvolvimento de tecnologia de forma autônoma, não se trata apenas de formalidades regulatórias, mas de algo concreto: ter equipamentos, servidores, sistemas, redes de alta disponibilidade que estejam sob gestão nacional com governança brasileira. Essa dependência de plataformas estrangeiras ou de tecnologia que opere em jurisdições alheias reduz a margem de manobra do país frente a crises internacionais, espionagem ou manipulações econômicas. A real infraestrutura tecnológica nacional deve estar inserida nos planos de ação estratégica para que o Brasil não fique em posição de passividade.
Uma infraestrutura tecnológica sólida contribui diretamente para a dinamização das políticas públicas de forma eficiente e segura. Quando órgãos estatais gerenciam dados sensíveis de saúde, educação ou previdência em plataformas externas ou pouco controladas, aumenta o risco de interrupções, vazamentos ou interdependências indesejadas. Por outro lado, ao dispor de datacenters, nuvens nacionais, redes seguras e conectividade inteligente, o país potencializa seu poder de resposta e fortalece a governança digital. Esse tipo de estrutura é vital para que iniciativas públicas funcionem sem depender de variáveis externas.
Além disso, a adoção de estratégias de infraestrutura tecnológica ampla e coordenada abre caminho para que o Brasil atraia investimentos, gere empregos qualificados e desenvolva uma cadeia interna de tecnologia com menos dependência. O estímulo à produção local, à formação de profissionais especializados e à pesquisa aplicada permite que o país atue de modo competitivo no mercado global e ao mesmo tempo proteja seus ativos mais sensíveis. Essa articulação entre política, educação e economia torna possível alcançar produtividade com segurança.
É também imprescindível considerar os aspectos de segurança e risco. Sem infraestrutura tecnológica própria ou sob controle nacional, o Brasil torna-se mais vulnerável a ataques cibernéticos, espionagem e influência externa. Em um mundo onde o fluxo de dados e as plataformas digitais são armas estratégicas, domina quem consegue proteger, operar e inovar. Estruturas robustas de datacenters espalhados geograficamente, backup seguro e protocolos de resiliência são elementos que definem quem estará preparado para desafios emergentes.
Outro desafio tangível é quebrar o ciclo de dependência tecnológica para que o país não seja apenas um consumidor de soluções produzidas por players estrangeiros, mas possa desenvolver, manter e evoluir sua própria tecnologia. Isso exige políticas de longo prazo, investimentos significativos, parcerias e um modelo de governança que inclua o setor privado e a academia. É um caminho que exige paciência, consistência e visão estratégica, mas sem esse salto difícil completá-lo significaria permanecer como espectador em vez de protagonista.
Um aspecto de harmonia entre infraestrutura tecnológica e soberania nacional é que ambos se reforçam mutuamente. Ao fortalecer a base de tecnologia, o país adquire maior liberdade para definir suas regras, proteger suas informações e participar mais ativamente das cadeias globais de valor. E ao mesmo tempo, essa liberdade normativa e política exige que a infraestrutura real exista. Não basta declarar autonomia: é preciso construí-la, mantê-la e atualizá-la. Essa dualidade entre poder político e capacidade material é o que define o grau de liberdade que o Brasil poderá exercer no futuro.
Em síntese, o Brasil chega a uma encruzilhada em que escolher o caminho da dependência ou da autonomia passa pela construção consciente de infraestrutura tecnológica. Investir hoje em redes, data centers, nuvens nacionais, governança de dados e formação de capacidade própria não é apenas uma questão técnica — é uma decisão estratégica sobre quem vai ditar o ritmo do seu desenvolvimento e da sua inserção no mundo amanhã. Esse esforço determinará se o país será capaz de defender seus interesses, inovar internamente e assumir posição de protagonismo ou continuará à mercê das decisões e vulnerabilidades de outros atores internacionais.
Autor: Friedrich Nill