Por Que o Brasil Não Possui Armas Nucleares: Fatores Históricos e Políticos em Jogo

Friedrich Nill By Friedrich Nill
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A questão sobre por que o Brasil não possui armas nucleares é complexa e envolve uma série de fatores históricos, políticos e sociais. Atualmente, apenas nove países no mundo têm acesso a esse tipo de armamento: Estados Unidos, Rússia, França, China, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte. O Brasil, apesar de ter potencial para desenvolver um programa nuclear, optou por não seguir esse caminho, priorizando a diplomacia e a cooperação internacional em vez da militarização.

Nos últimos meses, o Boletim de Cientistas Atômicos atualizou seu relógio do Juízo Final para 89 segundos para a meia-noite, um alerta sobre os perigos das ameaças nucleares e outros riscos globais. Essa atualização reflete a crescente preocupação com a possibilidade de um conflito nuclear, especialmente em um mundo onde tensões geopolíticas estão em alta. No entanto, o Brasil, ao longo de sua história, nunca se sentiu ameaçado o suficiente para justificar a necessidade de desenvolver armas nucleares.

Durante a Guerra Fria, o Brasil teve a oportunidade de se juntar ao seleto grupo de países com armas nucleares, mas nunca levou essa ideia adiante. Em 1998, o Brasil assinou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, comprometendo-se a não desenvolver armas nucleares. Especialistas afirmam que a falta de consenso na sociedade e a ausência de uma ameaça externa clara desestimularam o país a seguir esse caminho. A ideia de que o Brasil não precisa de armas nucleares para sua defesa estratégica é amplamente aceita.

Historicamente, o Brasil teve discussões sobre a possibilidade de desenvolver um arsenal nuclear, mas essas conversas nunca se concretizaram em ações. A pesquisadora Ana Maria Ribeiro de Andrade destaca que, durante a criação do programa de energia nuclear nos anos 1950, havia um cuidado em manter as discussões sobre armamentos nucleares em sigilo. A pressão internacional, especialmente dos Estados Unidos, também desempenhou um papel importante em desencorajar o Brasil de seguir um caminho bélico.

Durante a ditadura militar, o Brasil deu sinais de que poderia estar aberto a desenvolver armas nucleares ao não aderir ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares no final dos anos 1960. No entanto, o país optou por um programa pacífico de energia nuclear, que envolveu acordos com a Alemanha para a transferência de tecnologia. Apesar de ter avançado em conhecimento científico, o Brasil nunca buscou a capacidade de enriquecer urânio para fins militares.

A redemocratização do Brasil nos anos 1990 trouxe uma nova abordagem em relação ao desenvolvimento nuclear. O então presidente Fernando Collor enterrou poços construídos para testes nucleares e enfatizou as intenções pacíficas do programa nuclear brasileiro em um discurso na ONU. Essa mudança de postura foi um reflexo do desejo do Brasil de se integrar à comunidade internacional e de evitar sanções que poderiam resultar de um programa nuclear militar.

Embora o Brasil tenha desenvolvido uma capacidade significativa em energia nuclear, a ideia de construir uma bomba atômica nunca foi uma prioridade. A pesquisa de opinião realizada pela Fundação Getúlio Vargas em 2022 revelou que apenas 25% dos brasileiros apoiariam a construção de uma bomba atômica. Mesmo em situações de ameaça, o apoio aumentaria apenas para 47%, indicando que a maioria da população ainda não vê a necessidade de um arsenal nuclear.

Atualmente, a diplomacia brasileira se destaca por seus esforços em desarmamento nuclear e pela promoção de um mundo sem armas nucleares. O debate sobre a construção de armas nucleares não está na pauta da sociedade brasileira, e a tendência é que continue assim. O Brasil, com sua rica história de cooperação internacional e compromisso com a paz, parece estar mais focado em fortalecer suas relações diplomáticas do que em desenvolver um programa nuclear militar.

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